segunda-feira, 16 de novembro de 2009

"ALEGRIA NAS MURALHAS DO MALÉCON"

Um comentário:

  1. Alegrias na Muralha do Malecón-Cuba



    Juliana

    Que quadro! Não o havia analisado ainda. Logo no primeiro plano, bem no centro um carro azul e na janela, o que se vê através, um vermelho. O azul normalmente vai para o segundo plano de percepção e o vermelho, para o primeiro. Vc faz a inversão. E dá a chave para a compreensão do quadro. Ver pelo avesso, ou seja, o que é, deve ser revisto para tornar visível o que se vê através. Brilhante solução.

    Um outro espaço dentro do quadro se cria: um circunscrito em um quadrado, levemente à esquerda, aquele que tem no centro um violeiro. A calça dele é azul. De um lado uma personagem vestida com uma calça verde amarelado. Do outro lado uma com uma saia em um tom avermelhado mais azulado. Repare que quando seu olho se fixa na calça verde amarelada um nível de realidade e percepção se estabelece. Tudo mais que está no quadro vai para um segundo plano de percepção e realidade. Mas o quadro se transforma quando o olho é puxado para uma personagem com um vestido azul, e ao lado dele, uma outra, com as vestes laranja. Um outro espaço surge, e nele um prédio isolado, quase como uma figuração de uma prisão, quase como nos mostrando o outro lado da alegria que o músico quer irradiar. Repare, nosso olho vai para a borda do quadro no canto superior direito. Um movimento por um azul na borda superior se inicia liberando-o da moldura. A questão vinciana do limite surge e permite o serpenteamento que anima o espaço. Por aí, ainda dentro das observações vincianas, vc não mata a pintura por uma segunda vez. E faz que ela renasça.


    Esse azul que estava em um outro plano, lá atrás, permite um movimento circular no qual princípio e fim se encontram. É um eterno retorno. Mas agora construído pelas cores. São estas que vão determinar as formas. Uma dialógica entre cor e forma se estabelece, entre a impossibilidade de racionalização das primeiras, e racionalização das segundas. Aqui já não é mais uma questão dialética onde temos a tese, a antítese e a síntese, por exemplo. É uma outra lógica, a do terceiro incluído, onde temos vários níveis de percepção e realidade possíveis ou imagináveis, em uma dimensão temporal, lógica essa que permite a permanência em todos esses níveis que o princípio da contradição seja respeitado. Isso nos leva a um limite que não pode mais ser ultrapassado. É quando se esgotam todos os níveis de percepção e realidade. Tem-se então a lógica do terceiro excluído, ou seja, quando não há mais a possibilidade de pensarmos no princípio da contradição. Tem-se então a zona do sagrado, e sagrado aqui sem nenhuma referência à existência ou não de um Deus, mas da zona do enigma. Ou do que não pode ser mais dito.

    Para maiores esclarecimentos escrevo o seguinte. O princípio da contradição diz que A não é não A e Não A não é A. A zona do sagrado pode ser entendida também como um não-lugar.


    Juliana. vc tem lampejos de gênio. É o que te digo. Temos muito que conversar. Sua criatividade é impressionante. Aproxima-se do que venho estudando sobre uma outra possibilidade de se pensar a cor. Veja. Para dizer isso tive que descartar uma teoria cromática que classifica as cores em primária e secundarias, criei o cinza sempiterno como um pós ou pré fenômeno, a cor abstrata substantiva e a concreta adjetiva, redefini o rompimento do tom, etc. Veja os desenhos que tem na minha página do Orkut. Talvez possa de dizer alguma coisa.

    Juliana, vc me impressiona e vai, então,- um grande beijo por tanta ousadia.

    JM

    (ESTUDO DO QUADRO FEITO PELO ARTISTA PLÁSTICO JOSÉ MARIA DIAS DA CRUZ)

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