terça-feira, 17 de novembro de 2009

JOSÉ MARIA DIAS DA CRUZ SOBRE JULIANA SCORZA

O olhar de Juliana Scorza é capaz de ver o que está além das aparências. Não é, também um olhar prospectivo, que geralmente acaba versando sobre a própria arte. É um olhar interior que cobre toda a extensão das aventuras e desventuras humanas, desde as mais remotas, aquelas que estão nas raízes de nossa cultura, da nossa própria condição humana, e como se refletem nos dias atuais. São olhos que pensam, indagam e que a levam à pintura. Assim seu trabalho nos toca, nos faz refletir. Desde questões éticas e estéticas. A mim, particularmente espanta como é difícil classificá-lo, tão livre é. É um trabalho que não se prende a nenhuma escola, e nem mesmo me parece resultante de uma anterioridade pela qual podemos estabelecer uma genealogia pelas referências aos artistas nos quais se apoiou. É um trabalho lógico, mas muito livre, mas o trabalho apenas. Assim Juliana, com essa sabedoria e sensibilidade estranha, e com muita poesia, no faz pensar: afinal, quando os homens compreenderão o sentido da palavra liberdade?

Leva-nos também a pensar em Merleau Ponty, em seu texto O Olho e o Espírito: "Como se houvesse na ocupação do pintor uma urgência que excede qualquer outra urgência. Ele está aí, forte ou fraco, porem soberano incontestável na sua ruminação do mundo, sem outra "técnica" a não ser a que seus olhos e suas mãos se dão, a força de ver, à força de pintar, obstinado em tirar desse mundo onde soam os escândalos e as glórias da História, telas que quase nada acrescentarão nem às esperanças do mundo, e ninguém murmura. Que ciência secreta é, pois, essa que ele tem ou procura? Essa dimensão segundo a qual Van Gogh quer ir "mais longe"? Esse fundamental da pintura, e quiçá de toda a cultura?”

José Maria Dias da Cruz
Florianópolis, novembro de 2009.

Um comentário:

  1. "Uma pitadinha de liberdade aqui, uma lasquinha de liberdade... suscita ao homem o poder de se exprimir como tal, e obviamente na sua totalidade. Esta é também, a meta dos seus esforços, a sua própria realizaçãoi (...)"

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