Bati pela internet um papo breve com a Juliana Scorza. Fizeram um comentário abaixo de um desenho dela. Disse-me: é que fiquei encucada... Com um comentário no orkut. Num país pobre, movido a carro de boi, é preciso por o carro na frente dos bois. (Paulo Leminski - O bandido que sabia latim). O cara escreveu isso na foto. O que ele quis dizer?? Será que foi uma agressão, pelo fato de Cuba ser um país pobre e eu estar na praia?
Respondi depois por e-mail.
Minha querida Juliana Scorza
Vi como um elogio a citação feita por seu amigo com a frase do Leminsky abaixo de seu desenho. O importante é o carro. Nesse nosso pobre país, trocamos os pés pelas mãos mesmo. Ou melhor, as mãos pelos pés. E agora o código é meu. Vc é matisseana (os doutos do próprio umbigo diriam só isso e fechariam os olhos, não teriam coragem de por o carro na frante dos bois), mas eu continuo. Em um país pobre você pode ser mais importante que Matisse, menos conhecida e mais pobre também, mas precisamos de você assim mesmo, da sua coragem em ser, como o Leminsky, mais para marginal alegre do que douta frustrada, ou mesmo como o Hélio Oiticica e aqui refiro-me mais a uma atitude do que uma aproximação formal da obra
Salve nosso porralouquismo poético e com você, plástico também. Ele é muito sério.
Se seu amigo quis te agredir, para ficarmos com as brincadeiras do Leminsky com os ditos populares, diria que a culatra saiu pelo tiro, ou que se vendeu lebre por gato. Se deu mal, como os doutos.
O tema pouco importa: você na praia. O que importa é o que está além disso. Por exemplo: você estar na praia, mas pensando. Vemos um quadro e o quadro, como ele é, também nos vê. Achei lindo esse seu desenho!!!
Tenho um também, O Brasil em 15 minutos. Nele trancrevo uma frase de Lima Barreto; E Houve um em Niterói que teve seu quarto de hora de celebridade. Essa famosa frase foi dita aqui por um brasileiro, em 1913, nos fascículos de O Triste Fim de Policarmo Quaresma, porém mais ou menos 50 anos depois foi repetida por Andy Warhol, e por este aí é que a reconhecemos e damos importância. O Lima Barreto foi e continua marginalizado e "pobre". (Veja: trocamos os pés pelas mãos.).
Juliana, estou torcendo muito por você, e continue sempre íntegra. Pode incomodar muita gente. Mas dará muita alegria, a essa que está em seu interior, na sua personalidade, e a quem quer ver e compartilhar.
Beijos do seu pobre José Maria Dias da Cruz
Maio de 2009
Li esse poema aí abaixo. Para um olho de um pintor é tão claro! Como pelas palavras criar um colorido com toda sua complexidade. Lindo mesmo. Sobretudo por ser enigmático. Para mim servirá muito bem para um desenho, assemblages de poesia e pintura. O azul guarda um mistério. Pode ser o cinza sempiterno? É uma dúvida que sempre permanecerá. Tem mais, basta evocar um corvo e pensamos em Poe, e a abertura aí é enorme. Lembrei-me de um comentário de um crítico de arte, João Evangelista, referindo-se a um quadro de Martinho de Haro: "Nem toda a verdade está aqui, mas tudo que está aqui é verdade." ______________________
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ResponderExcluirBati pela internet um papo breve com a Juliana Scorza. Fizeram um comentário
abaixo de um desenho dela. Disse-me: é que fiquei encucada... Com um
comentário no orkut. Num país pobre, movido a carro de boi, é preciso
por o carro na frente
dos bois. (Paulo Leminski - O bandido que sabia latim). O cara
escreveu isso na foto. O que ele quis dizer??
Será que foi uma agressão, pelo fato de Cuba ser um país pobre e eu
estar na praia?
Respondi depois por e-mail.
Minha querida Juliana Scorza
Vi como um elogio a citação feita por seu amigo com a frase do Leminsky
abaixo de seu desenho. O importante é o carro. Nesse nosso pobre país,
trocamos os pés pelas mãos mesmo. Ou melhor, as mãos pelos pés. E
agora o código é meu. Vc é matisseana (os doutos do próprio umbigo
diriam só isso e
fechariam os olhos, não teriam coragem de por o carro na frante dos
bois), mas eu continuo. Em um país pobre você pode ser mais importante
que Matisse, menos conhecida e mais pobre também, mas precisamos de
você assim mesmo, da sua coragem em ser, como o Leminsky, mais para
marginal alegre do que
douta frustrada, ou mesmo como o Hélio Oiticica e aqui refiro-me mais a uma atitude do que uma aproximação formal da obra
Salve nosso porralouquismo poético e com você, plástico também. Ele é
muito sério.
Se seu amigo quis te agredir, para ficarmos com as brincadeiras do
Leminsky com os ditos populares, diria que a culatra saiu pelo tiro,
ou que se vendeu lebre por gato. Se deu mal, como os doutos.
O tema pouco importa: você na praia. O que importa é o que está
além disso. Por exemplo: você estar na praia, mas pensando. Vemos um
quadro e o quadro, como ele é, também nos vê. Achei lindo esse seu
desenho!!!
Tenho um também, O Brasil em 15 minutos. Nele trancrevo uma frase de
Lima Barreto; E Houve um em Niterói que teve seu quarto de hora de
celebridade. Essa famosa frase foi dita aqui por um brasileiro, em
1913, nos fascículos de O Triste Fim de Policarmo Quaresma, porém mais
ou menos 50 anos depois foi repetida por Andy Warhol, e por este aí é
que a reconhecemos e damos importância. O Lima Barreto foi e continua
marginalizado e "pobre". (Veja: trocamos os pés pelas mãos.).
Juliana, estou torcendo muito por você, e continue sempre íntegra.
Pode incomodar muita gente. Mas dará muita alegria, a essa que está em
seu interior, na sua personalidade, e a quem quer ver e compartilhar.
Beijos do seu pobre
José Maria Dias da Cruz
Maio de 2009
Li esse poema aí abaixo. Para um olho de um pintor é tão claro! Como pelas palavras criar um colorido com toda sua complexidade. Lindo mesmo. Sobretudo por ser enigmático. Para mim servirá muito bem para um desenho, assemblages de poesia e pintura. O azul guarda um mistério. Pode ser o cinza sempiterno? É uma dúvida que sempre permanecerá. Tem mais, basta evocar um corvo e pensamos em Poe, e a abertura aí é enorme. Lembrei-me de um comentário de um crítico de arte, João Evangelista, referindo-se a um quadro de Martinho de Haro: "Nem toda a verdade está aqui, mas tudo que está aqui é verdade."
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